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Conheça a história da cadela que parou a Ponte Rio-Niterói

A cadela Carminha, que atravessou a Ponte Rio-NiteróiFoto: Paula Giolito / O Globo
A cadela Carminha, que atravessou a Ponte Rio-Niterói PAULA GIOLITO / O GLOBO

RIO - A escolha da homenagem a Carminha (a vilã Avenida Brasil, interpretada por Adriana Esteves) para a vira-lata que parou o trânsito da Ponte Rio-Niterói no dia 18 de outubro, parece ter sido acertada. Mesmo não tendo o temperamento perverso da vilã de “Avenida Brasil”, que foi deixada no lixão, a dócil cadela foi abandonada pelos donos várias vezes e, segundo vizinhos, sofreu muito nas mãos deles. Maldades, segundo eles, dignas de Santiago, personagem de Juca de Oliveira. Carminha, na verdade, é Hana, uma cadela de cerca de 8 anos, que morava em Santa Bárbara, em Niterói. Mesmo com todo o sofrimento, o bichinho é pura demonstração de amor aos donos. Quer dizer, segundo os vizinhos, amor à filha do casal. Hana só faz jus ao nome de Carminha em relação ao sofrimento. Já como fujona, deu muito trabalho à equipe da CCR Ponte na hora do resgate e causou o caos no trânsito.

Na casa de Hana, a história da cadela parece ter se tornado motivo de constrangimento. Ninguém quis falar. A dona, ao ser perguntada se ela realmente era dona da cachorra, começou a passar mal. Alegou ter pressão alta e estaria tendo uma crise. As filhas telefonaram para o pai. À equipe do GLOBO, por telefone, ele se identificou apenas como Márcio e disse que tinha levado o animal para casa do sogro, em Austin, em Nova Iguaçu, distante cerca de 65 quilômetros da casa dele.

— Quando nos mudamos para uma casa menor, não pudemos ficar com a cachorra. Eu a levei para a casa do pai da minha mulher, mas ela fugiu — contou Márcio.

Vizinhos, que não quiseram se identificar por temer represálias, contaram outra história. Eles disseram que a cachorra foi deixada em São Cristóvão. Hana teria tentado percorrer os cerca de 25 quilômetros até chegar em casa. Os vizinhos contaram que há dois meses o casal foi morar na casa alugada e tinha três cães. A proprietária do imóvel, no entanto, proibiu que eles tivessem animais. Um doberman foi adotado, mas era muito agressivo e teria morrido quando caiu de uma laje. Já Hana passou a ficar na calçada recebendo pouca alimentação e estava muito debilitada.

Mesmo assim, os vizinhos a descrevem com um cão dócil e extremante fiel. Tanto que, todos os dias, pontualmente, ia buscar uma das filhas do casal na escola. Ainda segundo os vizinhos, Hana chegou a ser levada para o município de Itaboraí, distante cerca de 30 quilômetros de casa. Passou quase 20 dias fora até que um dia apareceu muito magra e fraca no portão dos donos.

— Em mais uma tentativa de se livrar de Hana, o dono (um motorista de táxi) a levou para São Cristóvão. Eles disseram que a Suipa não aceitou a cadela devido à superlotação. A dona ainda disse: ‘Agora quero vê-la atravessar a Ponte Rio-Niterói’. Quando vi as imagens dela percorrendo a ponte, não tive dúvida que era. Mas fiquei admirado. Essa cachorra é de outro mundo — disse um vizinho.

Veterinária do Centro Universitário da Serra dos Órgãos (Unifeso), Priscila Tucunduva afirma ser comum cachorros abandonados, mesmo em áreas distantes, retornarem para suas casas:

— Não são todos que conseguem, mas em especial os que tem mais familiaridade com as ruas. Sabemos de vários casos de cães que chegam a se deslocar de um município a outro, à procura de suas casas. Eles tendem a voltar pelo mesmo caminho que foram levados pelos donos antes do abandono.

Hana, que agora atende quando é chamada de Carminha, recupera-se na Sociedade União Internacional Protetora dos Animais (Suipa), em Benfica. Segundo Izabel Nascimento, presidente da entidade, mais de 200 pessoas entraram em contato com a Suipa para adotar a cadela. A vira-lata, no entanto, ainda está fazendo o tratamento de um tumor venéreo e se submetendo a quimioterapia. Somente depois disso poderá ser adotada.

— Ela é uma cadela dócil e hoje está muito bem. Tem ótimo relacionamento com os outros animais, inclusive com a cadela Nina

— disse Izabel Nascimento.

A presidente da Suipa também negou que a instituição tenha recusado o animal porque estava com superlotação. No caso da vira-lata, visivelmente doente, o dono seria orientado a fazer o tratamento. Para Izabel, ele deve ter levado para o Instituto Veterinário Jorge Vaistman, em São Cristóvão, que não recebe cães para adoção.

— As pessoas confundem e teimam em dizer que ali (Jorge Vaistman) é a Suipa — acredita Izabel.

Ela só lamenta que, enquanto 200 pessoas se interessam em adotar Carminha, outras continuam abandonando seus animais. Logo após o ocorrido com a cadela, somente em um dia, 140 animais, entre cães e gatos, foram abandonados na Suipa.

De acordo com Izabel, a média diária de abandono é de 40 animais, grande parte deles filhotes:

— Aumentou drasticamente o índice de abandono após o episódio da Carminha. É preciso ter campanhas sérias de controle de natalidade de cães e gatos. Já estamos com três mil animais abandonados.

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